Jornalismo Ambiental no Brasil e no Mundo

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Professora da UFSM defende jornalismo ambiental menos antropocêntrico em encontro nacional de pesquisadores

Material divulgado pela UFSM

Com o avanço das mudanças climáticas, o papel do jornalismo na preservação do meio ambiente tem sido cada vez mais debatido entre os profissionais da área. Recentemente, o Instituto Potsdam para Pesquisa sobre o Impacto Climático (PIK) divulgou que a Terra já rompeu sete dos nove limites que mantêm o planeta habitável em condições seguras. O instituto está localizado em Potsdam, cidade alemã com população estimada em pouco mais de 200 mil habitantes.

É nesse contexto que a UFSM participou, entre os dias 24 e 26 de setembro, do 6° Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo Ambiental, realizado remotamente com transmissão no YouTube e no site Even3. No evento, a professora no Programa de Pós-Graduação em Comunicação (Poscom) Claudia Herte de Moraes falou sobre a importância de o jornalismo se reconectar com a natureza.

 “Uma pauta do avanço da soja no pampa, ao invés de focarmos no impacto econômico, a gente tem a oportunidade de investigar o impacto na vida de um ecossistema”, sugeriu. Para ela, a crise ambiental não é um problema técnico, mas de relacionamento, e é preciso pensar no outro não somente como ser humano, mas como natureza também. Claudia propõe três alternativas para o jornalismo ambiental se fortalecer: mudar as fontes, o método e a perspectiva.

É preciso dar espaço para o conhecimento dos povos indígenas, dos agricultores familiares e pescadores tradicionais nas matérias e não se limitar apenas aos cientistas com currículos extensos. Ela se opôs ao “jornalismo de gabinete”, quando o profissional se acomoda em escrever matérias com dados corretos e oficiais, mas produz textos emocionalmente distantes. 

Segundo ela, a apuração em campo, como reportagens em margens de rios, aproximaria mais o público da pauta ambiental. A professora também ressaltou o aspecto não inovador das medidas e que é necessário uma maior aplicação dos jornalistas. “A história vai se tornar maior, mais complexa e mais verdadeira, deixando de ser um obituário da natureza”, explicou. 

Sob o olhar do ambientalista

Por outro lado, o doutor em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos (UFScar) Paulo Brack disse que a pauta ambiental só aparece no jornalismo no momento dos desastres e citou o rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, como exemplo. Porém, a questão ambiental não envolve só o jornalismo, e, sim, vários fatores em nível nacional. O caso das barragens engloba um dos pilares da exportação brasileira nas últimas décadas: o minério de ferro. 

“O Brasil é um grande exportador de commoditiese a nossa pauta econômica leva a cada vez mais flexibilizações ambientais”, lamentou Brack. Essas exportações envolvem produtos primários e menor valor agregado, mas a grande quantidade de vendas compensa para o país. Em muitos casos, o Brasil compra de países que utilizam seus commodities nos componentes de produtos industrializados e que são mais caros. 

Brack, que atualmente é professor de botânica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), também mencionou o petróleo e a soja como os principais responsáveis pelo avanço do desenvolvimento sobre o meio ambiente. E, de fato, a empresa Fazcomex Tecnologia para Comércio Exterior apontou que, até junho de 2025, o minério de ferro era o produto mais exportado no ano, seguido pela soja e petróleo em terceiro. O cinturão da soja, que embarca regiões de intensa produção do commodity, avança na floresta amazônica a partir dos estados de Rondônia e Mato Grosso. Enquanto isso, cresce a pressão por perfurações de petróleo na Foz do Amazonas. 

“A briga é de cachorro grande”

O doutor em Comunicação e especialista em Comunicação Rural pela Universidade de São Paulo (USP), Wilson da Costa Bueno, afirmou que “a briga é de cachorro grande”. Para ele, o jornalismo deve ser politicamente atuante em favor da causa ambiental e abandonar a ideia de imparcialidade na hora de lidar com o interesse de grandes empresas. No programa de crédito rural deste ano, o Plano Safra, o Governo Federal anunciou quase R$ 520 bilhões para o agronegócio, destinado a grandes produtores, em comparação com os R$ 89 bilhões para a agricultura familiar. 

Apesar de ter uma população inferior à dos Estados Unidos e da China, o Brasil utiliza mais agrotóxicos, responsáveis por conservar as plantações, do que os dois somados. Dentro do maior consumidor do mundo, de acordo com relatório de 2021 da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), é amplo o uso do glifosato, substância relacionada ao desenvolvimento de câncer em múltiplas pesquisas.  

O ambientalista Paulo Brack comentou ser necessária a discussão sobre diminuição do consumo de bens de modo geral e a desconcentração de capital em defesa do meio ambiente. Segundo o Global Wealth Report 2024elaborado pelo banco suíço UBS, o Brasil é o país mais desigual do mundo. “O sistema capitalista é um sistema que não consegue viver com limites e é preciso ter limites”, declarou Brack.

Texto: Jônathas Grunheidt, acadêmico de Jornalismo, bolsista da Agência de Notícias
Edição: Ricardo Bonfanti, jornalista

Link original: https://www.ufsm.br/2025/09/29/professora-da-ufsm-defende-jornalismo-ambiental-menos-antropocentrico-em-encontro-nacional-de-pesquisadores


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Jornalistas e especialistas debatem cobertura de desastres

Jornalistas e especialistas estarão reunidos de forma virtual em três lives para debater a cobertura jornalística de desastres. A iniciativa é da Rede de Emergência Climática e Ambiental (RECA), em parceria com a Federação Nacional de Jornalistas (FENAJ), tendo como principal foco promover o diálogo entre especialistas e jornalistas, com o intuito de qualificar a cobertura sobre desastres cada vez mais recorrentes.

A série de lives “Diálogos entre jornalistas e especialistas acerca do desastre” terá transmissão pelo canal da FENAJ no YouTube nos dias 6, 7 e 8 de agosto, das 19 horas às 20h30. “Nunca foi tão urgente formar redes de especialistas e comunicadores para o enfrentamento das mudanças climáticas e dos eventos meteorológicos extremos”, afirma a professora da UFSM – Universidade Federal de Santa Maria — Márcia Amaral, uma das organizadoras do evento.

O formato da live é de uma mesa-redonda. Eloisa Loose, professora da UFRGS que também está na organização, destaca: “A proposta permitirá que tanto os especialistas quanto os jornalistas apresentem suas perspectivas quanto ao que deveria ser reportado em cada momento“. Ela reforça ainda que a RECA é um coletivo composto, especialmente, por pesquisadores de instituições de ensino superior do RS, que se formou após a eclosão do desastre, para oferecer expertise e serviços para os municípios e o estado.

De acordo com os organizadores, o GT de comunicação da RECA propôs a parceria com a FENAJ, uma vez que os desastres  estão ocorrendo cada vez mais frequentemente. Para o vice-presidente Sul da Federação Nacional dos Jornalistas, José Nunes, e presidente da ARI – Associação Riograndense de Imprensa, a discussão sem dúvida nenhuma vai enriquecer a cobertura jornalística, com a troca de experiências entre profissionais e especialistas. “Temos que estar preparados para eventos futuros e essa troca acaba não só gerando pautas, mas acima de tudo abrindo possibilidades para novas fontes”, declara.

Programação

Primeira Live: 6 de agosto, Terça-feira (marque na sua Agenda)

Os alertas foram emitidos. E agora? Participam Reinaldo Estelles (Coordenador-geral de Articulação da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil junto aos órgãos do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil), Vagner Anabor (Pesquisador da UFSM / Meteorologia), Luciano Velleda e Silvia Marcuzzo, jornalistas. Moderação: Márcia Amaral (UFSM/RECA).

Segunda Live: 7 de agosto, Quarta-feira. (marque na sua Agenda)

O desastre eclodiu. Quais são os protocolos? Com Irineu de Brito Júnior (Especialista em gestão de desastres / UNESP), Armin Augusto Braun (Diretor do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres no Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional), Maria Teresa Cruz e Paulo Mueller, jornalistas. Moderação: Débora Gallas (GPJA/RECA)

Terceira Live: 8 de agosto, Quinta-feira (marque na sua Agenda)

Voltamos à ‘normalidade’. Quando o desastre acaba? Participam: Paulo Brack (coordenador do InGá – Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais), Victor Marchezini (CEMADEN), Karina Gomes Barbosa e Arnaldo Zimmermann, jornalistas. Moderação: Eloisa Loose (UFRGS/RECA)

Texto de Divulgação com edição

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Atualizado em 03/08/2024


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Pesquisas sobre Jornalismo Ambiental — a experiência do Observatório

Nesta terça (18/06), a professora Ilza Girardi vai conversar sobre o desenvolvimento do jornalismo ambiental a partir do Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental e do Observatório, que lidera. Será anfitriã a jornalista Carla Torres.

A atividade começa às 11h no perfil do Instagram do Grupo.

unte-se a nós para uma conversa sobre Jornalismo Ambiental. Vamos discutir como essa área se desenvolveu ao longo dos anos e como o Observatório tem contribuído para o seu fortalecimento como uma especialidade engajada e crítica à lógica atual.

A live será transmitida diretamente no perfil do Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental (@jornalismoemeioambiente) no Instagram.

🌿 Live do Observatório: Jornalismo Ambiental: da criação de uma disciplina às contribuições do Observatório 🌿 
🗓️ Quando: Terça-feira, 18/06
🕚 Horário: Das 11h às 11h30

Link para o perfil no Instagram.

Texto de divulgação, com edição.

Redação do Jornalista João Batista Santafé Aguiar  Assine o Canal do Jornalismo Ambiental no Brasil e no Mundo no WhatsApp – todas as notas publicadas aqui e algumas mais no seu celular. Link para contatos e envio de materiais para neste link. 


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Artigo: A Enchente de 2024

Pouco caso com mudança do clima e governança ambiental débil turbinaram a maior catástrofe hídrica da história do Rio Grande do Sul.

Por Roberto Villar Belmonte*

– Tu estás bem, já teve que sair de casa? – perguntou a professora Sandra Henriques em áudio que recebi no WhatsApp no domingo, 5 de maio, às 10h30. Ela tinha trabalhado até tarde nos ajustes de um aplicativo que estava desenvolvendo com outros colegas do Centro Universitário Ritter dos Reis para auxiliar no resgate de pessoas ilhadas na zona norte da capital e em municípios da região metropolitana. Estávamos nos primeiros dias da maior catástrofe hídrica da história do Rio Grande do Sul.

A governança ambiental estadual, cuja prioridade tem sido viabilizar sem burocracia licenças para empreendimentos, não estava preparada para lidar com o que aconteceu. Meio ambiente é visto historicamente como entrave ao desenvolvimento e, por isso, mudança do clima nunca foi prioridade de fato. Para piorar a situação, o sistema formado por diques e casas de bomba que protege Porto Alegre falhou. Por várias gestões fala-se em plano de mitigação e adaptação na cidade, sem avanços significativos.  

“Parte do Rio Grande do Sul é atingido por chuvas persistentes e volumosas desde a segunda-feira (29/04). Em algumas áreas, especialmente na ampla faixa central dos vales, encosta da serra e metropolitana, os volumes de chuva chegaram a passar dos 150 milímetros (mm) em 24h”, informou o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) no dia 30 de abril. As chuvas continuaram intensas durante a semana. Dias 2 e 3 de maio, as aulas tiveram que ser remotas. Até serem suspensas por três semanas.

Impactos do desastre hidrológico

  • Municípios afetados: 478 (de 497)
  • Pessoas afetadas: 2.398.255
  • Pessoas desalojadas: 423.486
  • Pessoas em abrigos: 18.854
  • Feridos: 806
  • Óbitos confirmados: 173
  • Desaparecidos: 38
  • Pessoas resgatadas pelas forças de segurança do Estado: 77.875
  • Animais resgatados: 12.543

Fonte: Balanço das enchentes no RS – 9/6

Moro há quase dois anos nas primeiras quadras da avenida Getúlio Vargas, no bairro Menino Deus, bem perto da Cidade Baixa. Monitorava de perto o avanço do Lago Guaíba pela vizinhança, pois minha casa estava dentro da mancha de inundação prevista por pesquisadores do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS. Na sexta-feira, 3 de maio, antes da aula remota da noite, fui conferir a pé a altura da água na Orla. A pista de skate já estava tomada, e parte da avenida Praia de Belas também.

A água estava avançando bairro adentro pelo esgoto pluvial. Na volta para casa, encontrei uma tilápia nadando na sarjeta bem na esquina da rua André Belo com a avenida Praia de Belas. Incrédulo, gravei um vídeo e postei nos meus stories. A imagem rapidamente viralizou. Dias depois, muitos peixes foram vistos. No dia 7 de maio, até um jacaré foi avistado nas primeiras quadras da Getúlio Vargas, onde a água do Lago Guaíba alcançou inacreditáveis dois metros no meio da rua.

Mas no domingo, 5 de maio, quando a professora Sandra me perguntou se eu já tinha saído de casa, o nível da água parecia estável, apesar do peixe que encontrei nadando na sarjeta. Como eu ainda estava com luz ligada e internet funcionando, tranquilizei minha colega. Segui atento às notícias e ao que acontecia na vizinhança. Naquele final de tarde, os primeiros vizinhos começaram a sair do prédio. Dormi com medo. Assim que acordei decidi levar meu pai para o apartamento da família no litoral norte.

Eu já tinha passado todo o final de semana levantando livros e roupas. Aproveitei a manhã de segunda-feira (6/5) para arrumar três malas e duas mochilas. Busquei meu pai nas redondezas e quando cheguei perto de casa, por volta das 13h, as primeiras quadras da avenida Getúlio Vargas eram inundadas rapidamente porque desligaram a energia de uma das casas de bomba. Na calçada na frente do prédio, a água já batia no joelho. Por pouco consegui pegar a bagagem e sair com o carro.

Na mesma nota do dia 30 de abril, o INMET explicou que o período entre o final de abril e o início de maio de 2024 ainda tinha influência do El Niño. “O fenômeno responsável por aquecer as águas do Pacífico ajuda a bloquear as frentes frias e concentrar os sistemas de áreas de instabilidade na altura do Rio Grande do Sul causando a chuva mais intensa em parte do estado gaúcho e sul de Santa Catarina desde o último sábado (27/04).” A quantidade de água que caiu em maio foi inédita.

MunicípiosTotal de chuva
Maio 2024 (mm)
Média – Normal Climatológica Maio (mm)
Caxias do Sul854,3131,4
Santa Maria617,1136,6
Bom Jesus556,4118,9
Porto Alegre536,6112,9

Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia (INMET)

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Com a mudança do clima, fenômenos climáticos extremos já estão acontecendo com mais frequência e com mais intensidade, por isso planos de mitigação e adaptação são considerados obrigatórios. O Rio Grande do Sul, segundo o INMET, foi atingido por chuvas persistentes e volumosas no mês de maio devido a uma ampla área de baixa pressão atmosférica que favoreceu a formação de novas áreas de instabilidade, juntamente com a formação e deslocamento de uma frente fria.

Os maiores acumulados foram nos municípios de Santa Maria com 213,6 mm e Soledade com 249,4 mm no dia 1º de maio; bem como Ibirubá com 196,4 mm e Serafina Corrêa com 176,6 mm, no dia 2 de maio.  Já entre os dias 11 e 12 de maio, áreas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina foram atingidos por temporais, devido a formação de um novo sistema frontal. Destaque para a chuva que caiu no dia 12 de maio em três municípios gaúchos: Cambará do Sul (154,6 mm), Caxias do Sul (139,2 mm) e Canela (125,8 mm).

Como o Lago Guaíba recebe as águas das bacias hidrográficas dos rios Vacacaí, Jacuí, Caí, Taquari-Antas, Sinos e Gravataí, toda chuva que caiu nos mais de 200 municípios que formam a Região Hidrográfica do Guaíba escorreu para Porto Alegre, inundando primeiro a região metropolitana, e depois Pelotas e Rio Grande, pois a água do Guaíba segue até o Atlântico pela Laguna dos Patos.  Por isso a governança ambiental deve passar necessariamente pelos comitês de gerenciamento das bacias hidrográficas.

“Apelamos às autoridades municipais, do Estado e da União, assim como à sociedade gaúcha e brasileira, para que reconheçam a importância de implementar todas as ferramentas previstas no Sistema Estadual de Recursos Hídricos. É imperativo apoiar os comitês de bacia hidrográfica, garantindo os recursos e a estrutura necessária para que possam desempenhar seu papel de forma eficaz”, pediram em nota conjunta publicada no dia 23 de maio os dirigentes dos comitês dos rios Caí, Gravataí e Sinos.

A nota defende a importância de reconhecer que “chegamos a este ponto devido à falta de aproveitamento e implementação plena do Sistema Estadual de Recursos Hídricos, criado em 1994 após mobilização popular”. O modelo de governança das bacias hidrográficas por comitês de usuários, formando o que é chamado de parlamento das águas, nasceu no Rio Grande do Sul. Os comitês Sinos e Gravataí foram os primeiros do país, quando a luta ambiental tinha mais força e relevância no estado.

– Os comitês de bacia hidrográfica, com sua composição diversa e representativa, têm o potencial de harmonizar os interesses ambientais e econômicos, promovendo o desenvolvimento mais sustentável e a proteção dos recursos hídricos. No entanto, a falta de suporte institucional e financeiro dificulta o desempenho pleno das funções dos comitês de bacia hidrográfica. A cobrança pelo uso da água não apenas financiaria parte das ações necessárias, como também incentivaria o uso racional por parte dos agentes econômicos, reduzindo a pressão sobre os recursos naturais – diz a nota conjunta dos três comitês.

A Região Hidrográfica do Guaíba, a mesma que enfrentou a maior catástrofe hídrica da história do Rio Grande do Sul em maio passado, já teve um programa governamental – o Pró Guaíba – com financiamento internacional que perpassou três governos: Alceu Collares, Antônio Britto e Olívio Dutra. Mas não teve continuidade na gestão de Germano Rigotto. De lá para cá nunca mais se falou em gestão da região hidrográfica. A mudança do clima traz o planejamento ambiental de volta para a agenda pública.

– A chuva de inverno está diminuindo, migrando para os períodos mais quentes de forma concentrada. Atualmente estamos entrando na primavera com falta de água e excesso de chuva em poucas horas ou dias, causando intensas inundações e levando toda a área plantada rio abaixo. Do ponto de vista da mudança climática no Rio Grande do Sul, houve uma completa alteração do clima, e atualmente temos noites mais quentes, ondas de calor mais frequentes e mais longas – informou o climatologista chefe do Departamento de Geografia da UFRGS, Francisco Eliseu Aquino, em entrevista concedida à estudante de jornalismo Rayane Gonçalves semanas antes da enchente de maio.

Em dezembro de 2023, a emergência climática foi o principal assunto da 17ª edição do Unipautas, jornal criado em 2013 para publicar notícias e reportagens produzidas pelos estudantes de jornalismo do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter). Nem poderia ser diferente em função do rastro de destruição deixado pelos ciclones extratropicais que assolaram o Rio Grande do Sul no segundo semestre do ano passado, potencializados pela incapacidade humana de respeitar os limites da natureza.

Se continuarmos falando e pensando no ambiente somente durante as enchentes, estiagens e ventanias, logo não teremos mais tempo de mitigar a emissão de gases de efeito estufa e de adaptar nossas cidades. O planeta mais quente já está gerando fenômenos extremos mais frequentes e intensos. A emergência climática é a nova situação em que nos colocamos no Rio Grande do Sul, por isso pensar no problema antes e depois das catástrofes é fundamental para a nossa sobrevivência.

Voltei do litoral norte na tarde do dia 16 de maio. Quando entrei no meu apartamento, que ficou com até um metro de água por dez dias, lembrei do final da minha tese de doutorado sobre jornalismo ambiental que defendi durante a pandemia: “Que o espanto, a indignação, o ativismo e o espírito de combate dos ecojornalistas sirvam de inspiração ao jornalismo brasileiro. Só assim o debate ambiental permanecerá em destaque na agenda pública, não apenas durante, mas também antes e depois das tormentas”.

  • O autor é Jornalista. Doutor em Comunicação. Criador do programa Gaúcha Ecologia na Rádio Gaúcha. Fundador da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental – RBJA. Doutor e mestre em comunicação e informação com pesquisas sobre o jornalismo ambiental brasileiro no PPGCOM da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde participa do Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS). Como professor do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter) de Porto Alegre (RS), trabalha com jornalismo(s) especializados(s), produção de conteúdo em multiplataforma, redação jornalística, jornalismo em áudio, televisão, documentário, teorias do jornalismo, teorias da comunicação, linguagens e relações estéticas, estágio supervisionado e trabalho de conclusão de curso. Também atua em extensão universitária e apoio à gestão acadêmica. Mais sobre o autor.

Leia também:

— Comitês das bacias hidrográficas dos rios Caí, Gravataí e Sinos lançam manifesto apelando para a implementação do Sistema Estadual de Recursos Hídricos

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Dia do Meio Ambiente terá evento em Frederico Westphalen e YouTube com pesquisadores e os jornalistas Luis Eduardo Gomes e Sonia Bridi, sobre Comunicação, Informação e os Desastres

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Marcado para o Dia Mundial do Meio Ambiente, o momento contará com palestra, painel e roda de conversa on-line com a participação de jornalistas e pesquisadoras/es

Os desafios da comunicação e informação no contexto de desastres será tema de evento promovido pela série Futuros Possíveis – Encontros de Pesquisa, no Dia Mundial do Meio Ambiente – 5 de junho. A iniciativa procura ampliar e aprofundar as reflexões em torno da área da comunicação diante da emergência climática e de desastres socioambientais, como o enfrentado pelo estado do Rio Grande do Sul neste mês de maio de 2024.

“Futuros Possíveis: Comunicação, Informação e Desastres” é o título do encontro que poderá ser acompanhado, a partir das 13h45, em formato on-line via YouTube ou presencial na sala 19 do bloco 1 da Universidade Federal de Santa Maria, campus Frederico Westphalen (UFSM/FW). Haverá espaços reservados para perguntas e diálogo entre participantes e público. Não é necessário inscrição prévia para assistir.

A organização do evento é realizada em uma parceria entre o milpa – laboratório de jornalismo, Grupo de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (Poscom) da UFSM, e o Programa de Extensão Mão na Mídia, do Departamento de Ciências da Comunicação (Decom) da UFSM/FW. O encontro faz parte da programação doPensando Verde: Semana do Meio Ambiente, promovida pelo Grupo Agenda 2030, da UFSM/FW.

Inicialmente, haverá a participação de Fernanda Damacena, advogada com pós-doutorado em Direito Socioambiental e Sustentabilidade, com a palestra Direito à Informação no Contexto de Risco e de Desastres”. A mediação será do jornalista e mestrando Micael Olegário (POSCOM/UFSM).

Em seguida, será aberto um painel com a participação da jornalista Sônia Bridi, da Rede Globo, e do jornalista Luís Eduardo Gomes, do portal Sul21, que irá tematizar o Jornalismo na Cobertura de Desastres. A mediação será da jornalista e doutoranda Anna Júlia Carlos da Silva (POSCOM/UFSM).

Espaço para a pesquisa

Além da palestra e do painel temático, o evento terá um terceiro momento com uma roda de conversa sobreA Pesquisa em Comunicação diante das Mudanças Climáticas. Estarão presentes a professora Ilza Maria Tourinho Girardi e a pesquisadora Eloisa Beling Loose, do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (PPGCOM/UFRGS); a professora Márcia Franz Amaral, do Grupo de Estudos em Jornalismo (POSCOM/UFSM); a professora Cláudia Herte de Moraes, do Programa Mão na Mídia (UFSM/FW); e o professor Reges Schwaab, do milpa – laboratório de jornalismo (POSCOM/UFSM).

Quem é a palestrante e os painelistas?

Fernanda Damacena é advogada, consultora e pesquisadora. Realizou pós-doutorado na área de concentração Direito Socioambiental e Sustentabilidade. É doutora e mestra em Direito, além de especialista em Direito do Estado. Visiting Research Fellow na UWA Law School – Austrália. Será a palestrante sobre Direito à Informação no Contexto de Risco e de Desastres

Sônia Bridi é jornalista, escritora e repórter especial, com vasta experiência em reportagens investigativas e coberturas de questões ambientais e sociais. Foi correspondente da Rede Globo em Londres, Nova Iorque, Pequim e Paris. Autora de Laowai – aventuras de uma repórter brasileira na China (2008) e Diário do Clima (2012).

Luís Eduardo Gomes é graduado e mestre em Comunicação Social, com especialização na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA). É repórter do site Sul21 desde 2015 e sócio desde 2020. Possui passagens anteriores pelo Portal Terra e pelo Diário Gaúcho.

Quando e horário?

— 5 de junho de 2024, Dia Mundial do Meio Ambiente, a partir das 13h45min

Link para YouTube

https://www.youtube.com/live/9lx9zk35Oc4

Como Ir

— Endereço do evento presencial em Frederico Westphalen – Como ir

Texto: Anna Júlia da Silva e Micael Olegário | Discentes Poscom/UFSM
Arte: Anna Júlia da Silva | Discente Poscom/UFSM
Revisão: Reges Schwaab | Docente Decom UFSM/FW e Poscom/UFSM

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Anunciados vencedores do Prêmio Caribenho de Jornalismo Climático

Neste sábado, 27/4/2024, foram anunciados os vencedores do Prêmio Caribenho de Jornalismo Climático. Os prêmios tem o objetivo de homenagear o jornalismo sobre as questões críticas das alterações climáticas e as consequências para a região do Caribe. Foi recebida uma grande quantidade de inscrições.

  • Visite a página da organização contendo uma pequena biografia de cada jornalista premiado e link para a matéria. Acesse aqui a matéria assinada por Camol Walker.


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Livro e blog sistematizam pesquisas e práticas de Jornalismo Ambiental em Santa Catarina

Capa do livro “Território e texto: jornalismo ambiental em Santa Catarina

Por Míriam Santini de Abreu*

O conhecimento sobre o jornalismo ambiental em Santa Catarina é o objeto que a equipe da Revista Pobres & Nojentas, que desde 2006 atua em Florianópolis, vem buscando consolidar. A primeira iniciativa foi o lançamento, em dezembro de 2023, do livro “Território e texto: jornalismo ambiental em Santa Catarina”, com seis artigos de jornalistas que, em momentos de sua trajetória, escreveram sobre a relação entre sociedade e natureza no estado.  A segunda foi a criação de um blog, em fevereiro passado, para reunir pesquisas na área e também sobre a história do movimento ambientalista estadual.

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EcoAgência de Notícias poderá ser encerrada

Em Assembleia Geral de associados realizada dia 20/3/2024, o NEJ – Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul resolveu voltar à origem da sua criação e promover cursos de formação. Também foi decidido que o projeto da Terça Ecológica terá continuidade nas próximas semanas com a promoção de palestras e painéis públicos sobre questões ambientais, políticas e jornalísticas. O site da EcoAgencia Solidária de Notícias Ambientais ecoagencia.eco.br — mantido pelo NEJ a partir de iniciativa de jornalistas de todo o país que compareceram ao 1º Fórum Social Mundial, realizado em 2003 em Porto Alegre, poderá ser descontinuado.

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Faltam 5 dias para inscrições na Conferência dos jornalistas ambientais americanos

Conferência Anual da Sociedade dos Jornalistas Ambientais # SEJ2024, Filadélfia, Pensilvânia, 3 a 7 de abril

Faltam 5 dias! As inscrições on-line terminam na segunda-feira, 25 de março, às 23h59 horário do leste dos EUA, para a 33ª conferência anual da SEJ – Society of ENVIRONMENTAL JOURNALISTS, organizada pela Universidade da Pensilvânia! Os jornalistas terão muito a compartilhar sobre o seu canto do mundo: a enorme batalha sobre o fracking e o GNL versus as energias renováveis, como a eólica e a solar; o paradoxo de uma cidade que quer ser moderna e voltada para o futuro, mas é impedida por questões de pobreza, racismo ambiental, desafios de infra-estruturas e problemas de desenvolvimento; inundações e aumento do nível do mar; poluição e gestão de terras; e muito mais.

Confira o rascunho da agenda , oportunidades de patrocínio e garanta um quarto de hotel Obtenha descontos em passagens aéreas para Delta, Southwest e United.

Visite o site do SEJ com mais informações

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Até 28 de março: pesquisa sobre Segurança de Jornalistas Ambientais

A pesquisa foi elaborada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em parceria com a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ).

A pesquisa faz parte de um estudo sobre a segurança de jornalistas ambientais comissionado pela UNESCO com o objetivo de:

— Auxiliar no mapeamento da extensão do problema internacionalmente; ajudar a compreender os vetores, modos e características de suas diversas manifestações ao redor do mundo;

— Observar os fatores interseccionais (por exemplo, raça, etnia, orientação sexual, identidade de gênero, religião) e seus impactos;

— Avaliar a eficácia das tentativas existentes de abordar a crise;

E informar uma pesquisa mais ampla da UNESCO sobre a segurança de jornalistas ambientais, e considerar quaisquer recomendações que serão compartilhadas com os Estados Membros da UNESCO, organizações da sociedade civil e outras partes interessadas relevantes para permitir tentativas mais eficazes de enfrentar o problema.

Link para a pesquisa

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