Jornalismo Ambiental no Brasil e no Mundo

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A importância do contexto na notícia climática

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OBSERVATÓRIO DE JORNALISMO AMBIENTAL

por Heverton Lacerda*

Imagem: C3S /ECMWF

Este ano já detém a marca do janeiro mais quente da história, segundo boletim do Copérnico (C3S), programa da União Europeia (UE) que monitora mudanças climáticas, divulgado nesta quinta-feira (8) e amplamente publicado na imprensa. 

De modo geral, veículos de notícias, a exemplo de GZH (RBS)UOL NotíciasNSC TotalBom dia Brasil (Globo)Último Segundo (IG)MetrópolesRádio Senado, entre outros, apenas replicaram os dados do programa da UE. No entanto, alguns trouxeram informações adicionais que ajudam a contextualizar o problema, que tem causas e consequências que podem ir muito além do que apenas o extremo aumento da sensação térmica. Embora a contextualização não esteja presente em todas as notícias, percebe-se que a pauta climática começa a fazer sentido para alguns redatores, que incrementam a divulgação de novos dados com conhecimentos já consolidados pela Ciência. 

No portal SBT News, Camila Stucaluc informa que “o cenário é preocupante, uma vez que o aquecimento acima da meta pode provocar consequências extremas para o meio ambiente e a humanidade, como o aumento de queimadas e da transmissão de doenças por mosquitos. Outra consequência é o derretimento em maior velocidade e irreversível das geleiras, fazendo com que cidades costeiras, como o Rio de Janeiro, fiquem submersas”.

O texto de Jéssica Maes, na Folha de São Paulo, traz uma informação extra que agrega valor analítico à notícia: “No entanto, uma análise de dados feita pela Folha mostrou que a Terra viveu cinco El Niños mais severos do que o atual nos últimos 70 anos. Ou seja, a temperatura global no último ano já estava muito alta, mesmo sem levar em conta a intensidade do fenômeno”. Ela ressalta que a questão não é só o El Niño, como tem aparecido em algumas divulgações. Ou seja, o próprio fenômeno climático está mais intenso em função do aquecimento do clima, que gera influência sobre ele, o El Niño. São situações relacionadas que se retroalimentam.

Na cobertura geral dos veículos de imprensa, pode-se acompanhar uma seleção de  ocorrências que se constituem como catástrofes de grandes proporções, como, por exemplo, os incêndios que destruíram centenas de casas no Chile neste mês. Na maioria das vezes, fatos como esses têm sido noticiados isoladamente, enclausurados em si só, sem referência ao contexto global e aos diversos fatores antropogênicos inter-relacionados que podem contribuir para a emergência climática. 

Rompendo essa prática reducionista, além dos dois exemplos acima, temos uma matéria da BBC News Brasil, publicada no dia 5 de fevereiro, que menciona o estresse hídrico causado pela substituição de mata nativa por lavouras para a produção de celulose no Chile. “Somando-se a isso, tanto no centro como no sul do Chile existem muitas espécies invasoras, como o pinheiro ou o eucalipto, que foram introduzidas para a produção de celulose e madeira no país”. O texto é da Fernanda Paúl.

Informações de contextos, como esses exemplos das matérias acima, da Camila Stucaluc, da Jéssica Maes e da Fernanda Paúl, são fundamentais para ajudar a população e gestores públicos a cobrar e encaminhar medidas que são essenciais para mudar o rumo destrutivo promovido pelo atual modelo socioeconômico que está contribuindo para o caos climático. Os preceitos do jornalismo ambiental se mostram, cada vez mais, muito adequados e valiosos para a cobertura de pautas climáticas, fazendo a diferença na compreensão dos fatos e dos problemas envolvidos nessa questão de âmbito planetário.

*O autor é Jornalista, ativista ambiental, especialista em Ciências Humanas, mestrando no Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCPM/UFRGS) e presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan).

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