Jornalismo Ambiental no Brasil e no Mundo

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Artigo: Uma conversa franca sobre jornalismo profissional

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Roberto Villar
Belmonte*

O editor-chefe de GZH, Pedro Moreira, e as colunistas de política e economia Rosane de Oliveira e Giane Guerra estiveram no campus Fapa da UniRitter, em Porto Alegre, RS, para divulgar o Programa Primeira Pauta do Grupo RBS. 

“A gente tem duas formas de enxergar as redes sociais”, afirmou o editor-chefe de GZH, Pedro Moreira.  Como um copo meio vazio, ou seja, um verdadeiro inferno, exemplificou ele, onde todo mundo briga e se xinga; ou como uma maneira mais fácil de ouvir o público. Ele prefere olhar para os canais digitais de comunicação deste jeito, como um copo meio cheio. “Hoje em dia a gente conversa muito mais com a audiência”. O aplicativo de mensagens WhatsApp, por exemplo, é usado para receber pautas, mas também para entender os diferentes tipos de público.

De que maneira o jornalismo profissional deve lidar com as demandas vindas das redes sociais? Como fazer um jornalismo político equilibrado em uma sociedade dividida politicamente? Qual a importância da pauta ambiental no jornalismo econômico? Estas foram as três perguntas que fiz para começar o bate-papo com o editor-chefe de GZH, Pedro Moreira, e com as colunistas de política e economia Rosane de Oliveira e Giane Guerra. O trio visitou o campus Fapa da UniRitter na noite de 4 de setembro para divulgar o Primeira Pauta, programa de treinamento da RBS iniciado em 2009. 

“O consumo no digital tem várias frentes. Hoje pra sustentar um negócio no digital tu tens que responder a várias perguntas”, ressaltou o editor-chefe de GZH. Ele citou três desafios que se complementam: responder as perguntas de quem está nas redes sociais; responder as perguntas dos assinantes, que são um público fiel; mas também produzir um conteúdo de qualidade capaz de responder as perguntas que são feitas pelo público geral no Google, o principal mecanismo de busca no ambiente digital, sobre assuntos cobertos pelas equipes de jornalismo da RBS. 

Para dar conta de tais desafios, tem que ter várias frentes de trabalho, reconhece Pedro Moreira. “Isso é difícil e desafiador.” Cada plataforma exige uma linguagem diferente dos profissionais da RBS. No TikTok, eles procuram personalizar o conteúdo, focando mais nas pessoas. Já no Instagram, o foco é no relacionamento por meio de vídeos com mais produção. No Facebook, a prioridade é compartilhar os links dos textos publicados no Portal GZH. “E no WhatsApp, a gente vai fazer uma conversa mais próxima com o público”, relata o editor-chefe. 

“Independência ou morte” 

Quando formulei a pergunta direcionada à Rosane de Oliveira, principal colunista de política da RBS, fiz questão de usar o termo jornalismo equilibrado, e ressaltei que não estava falando em imparcialidade ou neutralidade. “Eu nunca uso a palavra imparcial porque eu não gosto desta palavra. Eu acho que é uma palavra que não tem sentido no jornalismo, principalmente no jornalismo de opinião. A palavra de ordem da minha vida é independente”, afirmou a jornalista. Ao final de sua resposta chegou a defender: “independência ou morte da profissão”. 

Esta postura profissional defendida por Rosane de Oliveira está no Guia de Ética e Autoregulamentação Jornalística publicado em 2011 pelo Grupo RBS: “jornalismo é a atividade de produzir informação e análise com liberdade, responsabilidade e independência”. Ela também ressaltou aos alunos de jornalismo da UniRitter que faz parte do trabalho de quem cobre política receber críticas. 

– Eu passei os quatro anos do governo Bolsonaro sendo crucificada pela torcida bolsonarista. De fato, ele foi o presidente que eu mais critiquei na vida. Mesmo que eu levantasse de manhã pensando hoje eu não vou criticar o Bolsonaro, ele dava uma entrevista naquele cercadinho e eu não podia não criticar. Eu não podia me conformar que o Presidente da República fosse tão anticiência, antivacina, ficasse receitando remédios sem eficácia. Eu acabei ficando muito marcada por isso. (…) A gente tem que estar preparado para as críticas. E hoje quando eu faço qualquer crítica ao Lula as pessoas dizem só podia ser a bolsonarista da Rosane. 

A colunista de política Rosane de Oliveira deixou uma dica de ouro para os futuros jornalistas: “Vocês estão entrando em uma profissão onde as perguntas às vezes são mais importantes do que as respostas”. E fez questão de afirmar que critica quem precisa ser criticado. Se preservasse alguém, ponderou ela, não estaria fazendo jornalismo, mas sim relações públicas. “Nada contra a profissão, que trabalha a imagem de uma pessoa. Mas o jornalismo de veículo exige que a gente seja independente”. 

Giane Guerra usou como gancho a distinção que Rosane de Oliveira fez entre jornalismo político e relações públicas para diferenciar o jornalismo de negócios que ela pratica nos veículos da RBS da publicidade e propaganda: “Quando eu falo de uma empresa ou de um produto eu falo pensando no que é importante para o público. Não o que é importante para a empresa dona daquele produto, o que ela quer falar. Ah, mas a gente quer comunicar assim. Bom, então compra um anúncio, publica no teu blog”. A credibilidade, ressaltou, é o seu maior patrimônio. 

Economia verde 

A colunista de economia Giane Guerra passou a incluir nos últimos anos temas ligados ao meio ambiente nos espaços que ocupa nos veículos da RBS, como novos parques eólicos e o potencial que existe no Rio Grande do Sul para o hidrogênio verde, combustível fundamental para a expansão da frota de veículos elétricos. Ela contou que sempre gostou de natureza e que tinha recentemente passado um domingo com a família no Rincão Gaia, um centro de alfabetização ecológica localizado em Pântano Grande mantido pela família do ambientalista José Lutzenberger. 

– Não quer dizer que eu não vou noticiar se for anunciada uma térmica a carvão, porque querendo ou não eu sou jornalista de negócios, de economia, gera emprego, tem investimento. Mas eu vou questionar por que uma térmica a carvão agora. Não tinha como ser uma outra fonte de energia? Eu noticio mil produtos e mil marcas que eu não consumo porque eu não gosto, porque eu não gosto da comida, mas noticio porque gera emprego, porque minha pegada é a economia. 

Giane Guerra disse que lê bastante sobre questões ambientais, sobre greenwashing (maquiagem verde realizada por empresas e governos), sobre o selo ESG (os critérios ambientais, sociais e de governança) que, segundo ela, todo mundo gosta, e por isso quer sempre saber o que as empresas de fato fazem. “Eu tenho esse olhar. Eu acho que isso é importante, então eu destaco isso como uma grande coisa positiva”. Citou como grande exemplo de sustentabilidade no mundo dos negócios a empresa Mercur, de Santa Cruz do Sul, que tem conseguido de fato mudar sua cultura. 

Estudar bastante sobre a área que se vai cobrir, principalmente se é uma área técnica. Isto ajuda o jornalista a fazer melhores perguntas, ensinou Giane Guerra. “Falar de um jeito simples, exige bastante sofisticação. Tu tens que entender do assunto, saber perguntar, saber escrever. Isto não livra a gente de ser enrolado [pelas fontes], mas diminui a probabilidade”, garantiu a colunista de economia. 

Estudantes de jornalismo do campus Fapa da UniRitter – Crédito: Guilherme Klafke da Costa

Depois que Pedro Moreira, Rosane de Oliveira e Giane Guerra responderam minhas três perguntas iniciais por 40 minutos, o trio conversou por mais 90 minutos com os estudantes de jornalismo da UniRitter respondendo perguntas sobre: referências no jornalismo, linguagem simples, impacto das redes sociais, interação com haters, desafios do começo da profissão, furo do Matinal Jornalismo sobre O Dia do Patriota, características desejáveis de um estudante de jornalismo, momento mais impactante da carreira, jornalismo na TV e ensino a distância. 

O evento está disponível no canal da FACS UniRitter no YouTube. 


*Roberto Villar Belmonte trabalha há quase dez anos como professor de jornalismo no Centro Universitário Ritter dos Reis de Porto Alegre. Foi criador original deste site http://www.jornalismoambiental.jor.br. Criador da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental. Perfil no Linkedin. Reproduzido com autorização em www.jornalismoambiental.jor.br

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